INETI vende 39% do urânio nacional


127 toneladas por 19 milhões INETI vende 39% do urânio

A iniciativa para a venda do urânio terá partido do próprio INETI, para pagar o armazenamento deste metal pesado. Segundo denunciou o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), o instituto é obrigado a pagar por ano cerca de 300 mil euros à Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM) para guardar as 198 toneladas de urânio. Um custo desnecessário, segundo Bettencourt Picanço, do STE, já que existe uma “entidade francesa” disponível para guardar o urânio e que cobra apenas uma taxa sobre a venda do produto. A proposta não foi aceite, nem pelo Governo de Durão Barroso nem pelo actual Executivo de José Sócrates.

Para pagar os encargos financeiros com o armazenamento do urânio o INETI, que deverá ser extinto ainda este ano, resolveu proceder à venda de 127 toneladas de urânio, conforme confirmou ao CM o instituto. O processo de venda, que leva mais de um ano, terá sido iniciado em 2004, no Governo de Durão Barroso, embora a sua venda só se tenha concretizado em 2005. Além do Executivo português e do INETI, estiveram envolvidos no processo de venda, o Instituto Tecnológico e Nuclear e a Direcção-Geral de Saúde, devido às precauções com o transporte deste produto, e a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA). Esta última é a responsável pela concretização da venda do urânio e pelo seu controlo.

Segundo confirmou ao CM o INETI, as 198 toneladas que Portugal ainda detém estão avaliadas em cerca de 30 milhões de euros. E tendo por base este valor, as 127 toneladas vendidas deverão ter custado à França cerca de 19 milhões de euros. Portugal não recebe, porém, a totalidade desta verba, já que é paga uma comissão à AIEA. De acordo com um relatório da agência, 401 centrais nucleares gastam por ano 67 450 toneladas de urânio para produzir 16 por cento da electricidade mundial.

O CM contactou o Ministério da Economia para obter mais esclarecimentos sobre o assunto, mas até ao final da edição não foi possível.

O Governo já anunciou a extinção do INETI no âmbito da reforma do sistema de laboratórios de Estado, uma decisão que não agrada ao conselho científico e à comissão de trabalhadores do instituto. O STE vai apresentar segunda-feira uma providência cautelar no Supremo Tribunal Administrativo, para suspender a extinção.

A CASA DO SINDICALISTA

O secretário-geral da UGT, João Proença, é um dos 782 funcionários do quadro do Instituto Nacional de Engenharia Tecnológica e Inovação (INETI), que será extinto este ano no âmbito da reforma do sistema dos laboratórios do Estado.

“Sou sindicalista a ‘full-time’, mas a minha casa é o INETI”, disse ao CM João Proença, que garantiu que irá acompanhar todo o processo levado a cabo pelo Governo. Sobre o relatório elaborado por um grupo de trabalho internacional, que esteve por base na decisão do Executivo em extinguir o INETI, João Proença foi claro: “Está mal fundamentado. Partir aos bocadinhos o INETI não é uma decisão correcta”.

O sindicalista lamentou ainda que o Governo não tenha ouvido os principais visados deste processo, os trabalhadores e garante que a reforma traçada levanta “muitas dúvidas”.

VENDAS NUNCA CONFIRMADAS

Em Portugal, a venda de urânio nunca fica esclarecida e, por essa razão, levanta sempre grandes polémicas e boatos.

Uma dessas polémicas/boatos envolveu o antigo ministro Veiga Simão, fundador e primeiro presidente do Laboratório Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (LNETI). Em 1992 uma notícia do ‘Público’ fazia acusações à actuação de Veiga Simão em relação aos negócios desse metal pesado, que levaram à sua substituição no LNETI. Na altura, o ministro da Indústria e Energia era Mira Amaral. A partir desse ano o LNETI sofreu uma reestruturação e passou a designar-se o Instituto Nacional de Engenharia Tecnológica (INETI). Para presidente do INETI foi nomeado Barata Marques, que deixou o cargo em 1999. Outro ‘escândalo’ sobre a venda de urânio saltou para as páginas dos jornais aquando da invasão do Iraque por parte dos EUA. Escreveu-se na altura que Portugal terá vendido aos iraquianos 280 toneladas de urânio, informação que nunca chegou a ser confirmada.

DETALHES

.O QUE É O URÂNIO?

O urânio, designado desta forma em homenagem ao planeta Urano, é um elemento químico de símbolo ‘U’. Descoberto em 1789 pelo alemão Martin Heinrich Klaproth, o urânio foi o primeiro elemento onde se descobriu a propriedade de radioactividade.

.PARA QUE SERVE?

O urânio é utilizado na indústria bélica para a produção de bombas atómicas, espoleta para bombas de hidrogénio e na construção de centrais nucleares com o objectivo de produzir energia eléctrica. Este elemento chegou a ser utilizado em fotografia e nas indústrias de cabedal.

.OS PERIGOS

A exposição ao urânio causa envenenamento de baixa intensidade e pode provocar o aparecimento de cancros. No caso dos mineiros, é comum o cancro do pulmão.


(in: correiro da manhã)

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